segunda-feira, janeiro 30, 2006

Carta para um camarada no estrangeiro

Numa daquelas arrumações de fim-de-semana, descobri esta carta escrita no início do ano passado, para um amigo que se encontrava ausente no estrangeiro, e que resolvi publicar aqui no blog:

Camarada, acredito que já tenhas ouvido as últimas da Santa Terra Portugal.
Pois é, o Benfica já não é primeiro. Foi empatando... Perdendo e, à hora que te escrevo é 4º classificado. Mas fomos roubados, o povo é sempre roubado. O Luís Filipe Vieira fez um DVD (formato um pouco burguês) e deu-o ao Ministro Henrique Chaves. O Sr. Ministro, que tinha tomado posse há dois dias, e que até então apenas era conhecido por ter o nome parecido com o nosso companheiro da Venezuela disse que tinha tido vontade de o mandar pela janela, o DVD, claro, se fosse o LFV seria um revolucionário.
Passados quatro dias da sua nomeação o Sr. Ministro, ex-melhor amigo do Primeiro, resolveu demitir-se. Mas não foi uma demissão fácil, envolveu bebés na incubadora, irmãos que batem nas criancinhas, uma grande noitada no Kremlin, um texto do Cavaco no Expresso e uma carta histérica/histórica a denunciar aquilo que nós, mais íntimos do Governo, já sabíamos.
Então, surpresa das surpresas: o Sampaio dissolve.
O banana fica-nos a dever 5 meses, a possibilidade da esquerda ter a maioria na Assembleia da República (sem que o PS tivesse a Absoluta) e a liderança mais à esquerda do PS... mas dissolveu. Há 5 meses teríamos como resultado das eleições um governo do Ferro com toda a esquerda, mas o banana não quis ficar para a história como o primeiro presidente a empossar um Governo com comunistas.
Acabo com estória do outro Benfica. Tivemos Congresso e, sinto-me o mais duro dos moles... ou o mais mole dos duros conforme preferires. Gostei das intervenções do Jerónimo, foram de abertura (sei que não vais acreditar se tiveres lido os jornais) dando uma valente porrada no Governo e no PS. Acho que o moço comunica bem.

Contudo, aviso-te que embora não pareça, Portugal está igual.

Hoje escreveria assim:

Camarada, o povo perdeu outra vez.
Bem sei que o Benfica ainda tem hipóteses de ganhar o campeonato e que o Governo tem um partido que se divide a cada passo mas, porra, é sempre o povo que perde! O Cavaco ganhou - nada que já não fosse previsível. Conseguiu fazer a campanha sem falar, ou melhor, dizendo um conjunto de frases genéricas sem sentido e substrato. Contudo depois destas eleições (porque a memória com a idade me vai falhando) quando penso em Cavaco já não penso em cargas policiais, escutas e Dias Loureiro. Agora a primeira coisa que me vem à cabeça é uma marquise de caixilhos de alumínio com vidro espelhado, a sua casa pato bravo no Algarve e a Maria... Nada de bom, mas ao menos a campanha requalificou na minha memoria a imagem de Cavaco e hoje, convenhamos, tenho uma imagem do futuro Presidente da República menos nociva.
Sobre o partido, diria que está mais inteiro. O Jerónimo foi candidato e correu bem. O moço é sério e fala com as pessoas. Prevêem-se três anos de oposição à séria.
Entretanto o Benfica avança com toda a desconfiança...
Contudo, aviso-te que embora não pareça, Portugal está igual.

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