sábado, outubro 11, 2008

VII. A táctica de Sócrates

Sócrates não inova. O primeiro discurso é contra “os que defendiam menos Estado”, esquecendo por momentos a Esquerda Moderna que extingue hospitais e maternidades, que obriga as universidades públicas a dependerem de receitas privadas ou que despede e reforma compulsivamente os funcionários do Estado. Declara-se a favor de uma maior regulação e de um papel mais interventivo do Estado, contrariando a amálgama ideológica que consta no Programa do Governo do PS:

O actual estágio de desenvolvimento das Economias Ocidentais colocou, na ordem do dia, a necessidade de coexistência das três tipologias estruturantes da actividade económica: as formas de organização típicas da Economia de Mercado, cuja sua mais acabada expressão são as Empresas obedecendo naturalmente ao primado do lucro; o Estado que, nos seus
vários níveis, procura a geração dos bens públicos; e as Organizações de Cidadãos que buscam juntar critérios de eficiência com os objectivos sociais de produção de determinados bens públicos críticos (saúde, solidariedade social, educação, habitação, etc.), ou seja que traduzem a simbiose entre a economia de mercado e as preocupações sociais.
“ pp. 66

Desta forma o primeiro ministro procura ocultar o seu passado recente e coloca-se de fora.
Contudo, em paralelo e num esforço olímpico do triplo salto, ensaia o discurso que em Portugal não será assim tão mau porque “nós” (agora sim, “eles”) prepararam o país.
Nada que Salazar não tenha feito.

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