sábado, agosto 19, 2006

O controlo das universidades (com "u" pequeno)

Descobri no blog do Filipe Moura, a notícia que a Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra tomou a medida de que para o seu quadro docente apenas sejam aceites doutorados. De acordo com a notícia da RTP, também a Fenprof concorda com contratação exclusiva de docentes doutorados.
Esta medida embora, uma leitura simplista nos possa fazer pensar que significa uma melhoria na qualidade do corpo docente, resulta numa operação para um maior controlo das oligarquias universitárias sobre a academia. As linhas de investigação tornar-se-ão cada vez mais curtas em função das vistas dos doutores do poder, escumangar-se-á todo e qualquer profissional de valor que não seja amigo do catedrático e finalmente retirar-se-á da escola aqueles que diariamente mais se relacionam com os fedelhos: assistentes e monitores.
Partindo do exemplo próximo do Departamento de Arquitectura da FCTUC, esta decisão provoca uma autêntica destruição dos quadros da cadeira central da licenciatura (Projecto), obrigando os que estão ligados ao ofício a escolher entre o atelier e universidade ou a fazer uma prova mediocre. Por outro lado, a aspiração de entrada de algum sangue novo na academia, é definitivamente cortada pelo facto dos "novos" que entram serem os que estão em torno dos "antigos".
Na arquitectura, este cenário é devastador.
Recordo sempre a história, contada por aquele que considero o meu mestre (e que sempre se recusou a fazer provas, para além das que fazia diariamente na profissão), que nos dias de greve havia um sujeito que, embora de esquerda, era sempre o primeiro a romper o piquete e a fazer o exame. Na altura já era professor doutorado e ia caminho da cátedra, embora fosse mais novo que ele e tivesse um curriculum profissional vasto mas desastroso. É por terem medo de pessoas como o meu mestre que os doutores fazem estas leis.

P.S. - Tal como o Filipe Moura ameaça contar as suas desventuras numa candidatura a um instituto politécnico para defender o contrário do que aqui defendo, também pode ser que eu um dia conte as minhas desventuras em seis anos de Assembleia de Representantes da FAUTL, quatro anos de Senado da UTL ou numa proto-candidatura a mestrado ou doutoramento (... nunca percebi bem).

1 comentário:

Anónimo disse...

Sendo doutorado, sou suspeito (e não conheço a situação específica da Arquitectura). Mas não estou vinculado a nenhuma universidade portuguesa (já estive) e vejo a coisa pelo lado contrário: quem fez esta lei não foram os doutores (catedráticos seria mais apropriado), esses gostam demasiado de oprimir os assistentes. Esta lei, que mais do que contratar doutorados visa criar contratos individuais de trabaho, é feita apesar da oposição do establishment. Tal como o processo de Bolonha. O tempo dirá, provavelmente ainda numa outra forma que não antecipamos, mas posts como este acho que são para continuar.
CL