sábado, outubro 14, 2006

"A crise acabou!"

O Ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho, anunciou ontem de manhã o «fim da crise» na economia portuguesa. O mesmo Manuel Pinho, à noite, "esclareceu à TSF que a intenção não foi anunciar o fim da crise, mas acabar com a dramatização com que se encara a economia portuguesa".
Para além do fait diver de se dizer uma coisa de manhã e outra à noite, é importante analisar o momento em que Manuel Pinho parece ser mais genuíno, ou seja, de manhã.
Numa primeira fase procuremos entender que país é esse em que este ministro vive? Fui consultar a sua agenda.
Não existindo nenhuma actualização da agenda do Sr. Ministro no site do Ministério, apenas encontrei referências à sua agenda no portal do governo.
Dia 10 com a Repsol, dia 12 em Oliveira de Azeméis com a Microsoft e dia 13 na Universidade de Aveiro "O Ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho, preside à assinatura de um contrato de investimento no sector das energias renováveis".
Pessoalmente, para o Sr. Ministro, tudo corre bem. É tratado como um Ministro, pode circular a mais de 210 kms/hora nas auto-estradas do país sem que seja multado, é requerida a sua presença em todas as luxuriantes acções do grande capital. A vida corre-lhe bem.
O Sr. Ministro não vê a miséria, não vê a fome, não vê as dificuldades que a grande maioria dos portugueses atravessa porque circula num meio cada vez mais forte e poderoso, com cada vez mais capital e com cada vez mais poder.
A exclamação do Manuel Pinho que intitula este post é certa e genuína para o círculo de influências em que o Sr. Ministro se move. O seu país é o mesmo que o dos outros milhões de portugueses, contudo o seu circuito de conhecimentos é ultra-reservado.
À margem da sua sinceridade momentânea, o Ministro criou um problema: embora a crise não/nunca atinja o grande capital, importa que pareça que a mesma seja generalizada.
Nesse sentido Manuel Pinho tem uma pasta ministerial de dois gumes, por um lado deve ter um discurso sobre a crise económica e as necessárias restrições que o povo português deve enfrentar para deste modo não reforçar as diferenciações sociais que historicamente sempre derivaram em violentas lutas de classe, pelo outro lado, não faz sentido fazer o discurso da crise na assinatura de acordos milionários ou junto da Microsoft e Repsol.
Manuel Pinho tem o discurso errado para os locais por onde anda.

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